Muito se ouve falar que o carnaval é uma festa popular de origem pagã. Porém, ela é associada ao calendário católico critão que estabelece a terça-feira de carnaval e a quarta-feira de cinzas. Isto é muito estranho! Uma festa dita pagã estar presente no calendário da igreja católica cristã. Vamos ver o por quê?
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A origem do termo "CARNAVAL"
Estudos mostram diferentes origens para o termo CARNAVAL. A mais difundida e aceita entre os estudiosos é a associação com o termo latim CARNEVALE (carnelevamen) que significa adeus a carne. Outra versão é a derivação do termo CARRUS NAVALIS. Festas romanas nos Séc. VII e VI a.C, um carro carregava um grande tonel distribuindo vinho pelas ruas. Autores alemães alegam que vem de KANE ou KARTH que significa comunidade pagã. Por último há citações de que a palavra surgiu no ano de 590 d.C quando o papa Gregório I regulamentou as datas do carnaval e criou a expressão DOMENICA AD CARNE LEVANDAS, dando a liberdade para consumir a carne antes da Quaresma.
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COMO ORIGEM PAGÃ
Para compreender o significado do CARNAVAL é necessário ressaltar que a festa é milenar e existia desde a antiguidade, mostrando que, de fato, existe um fator pagão no seu significado. Vejamos:
na civilização egípcia havia uma festa em homenagem aos deuses ISIS e OSIRIS, em prol do crescimento das plantações. Nela, as pessoas invertiam o dia-a-dia visando o renascimento. Na festa era permitido quebrar as regras estabelecidas existindo muita comida, bebida e liberação sexual. Porém, logo após, havia um período de recolhimento;
na civilização grega havia as festas aos deus DIONÍSIO, deus do vinho, teatro e alegria;
na civilização romana os BACANAIS ou as festas ao deus BACO também deus do vinho, da alegria, do sexo e da perturbação da ordem;
na civilização romana nas festas chamadas LUPERCAIS em homenagem ao deus FARO o qual representava a luta da desordem e do tumulto contra a harmonia, que saia vencedora no final.
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Vários historiadores famosos como Mikhail Bakhtin (1895-1975) afirmam que a origem do carnaval é o paganismo. Para eles, é clara a identificação do CARNAVAL com as festas romanas e com outras tradições que existiam na Idade Média. O CARNAVAL significa uma liberdade temporária do mundo e do regime dominante, abolindo-se toda a hierarquia, regras e costumes, estabelecendo novas relações humanas entre os participantes.
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Existem alguns pontos interessantes de destaque quando comparamos estas festas pagãs com o carnaval atual: o festejo e a liberação momentânea das regras e da ordem, e o retorno à normalidade. Tudo se dá como a sociedade (desde antigamente) ter a necessidade de extravazar, de sair do dia-a-dia, de brincar, de gozar, e, retornar a vida normal.
COMO ORIGEM CRISTÃ
Com a chegada e a expansão do Cristianismo, o caráter degenerado que existia nas festas pagãs foi a princípio condenado. Papas e teólogos foram contra o carnaval e outras festas pagãs populares. Não deu certo! O povo indiferente a imposição da Igreja continuava a festejar usando atos cômicos que contrariavam as normas e costumes.
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A Igreja na Idade Média, ao perceber seu insucesso, tratou de adaptar a festa ao calendário eclesiástico, porém proibindo a comemoração dentro dos templos. O CARNAVAL começou a ganhar força pela sua tradição e se espalhou fortemente por toda a Europa, mantendo sua característica de contrariar as normas sociais tradicionais. No entanto, a festa era criticada pelas classes privilegiadas e grupos eclesiásticos.
Nesta época (1300 a 1600 - Renascimento), havia as procissões do carnaval que caricaturavam as procissões religiosas, imitando de forma cômica os nobres, bispos e o Papa. O povo se fantasiava de bobo e palhaço, ou usava máscaras de demônio. Jogava-se água perfumada nos assistentes como se fazia nos festivais religiosos. Existia o carro da RODA DA SORTE onde se sorteava o destino do homem perante Deus. Existia o carro da FONTE DA JUVENTUDE, o JOGO DA PAIXÃO que sorteava os tormentos que a pessoa iria ter no inferno. A elite também festeja o CARNAVAL em salões usando máscaras que deixavam a pessoa irreconhecível, traduzindo a negação da identidade para a violação das fronteiras. O sexo era intensamente praticado durante o carnaval a ponto do pico de casamentos ser logo após o período carnavalesco.
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Apesar de tudo, a Igreja passou a conviver com a festa, direcionando moderação os atos de seus fieis. Há registros que o Papa PAULO II (1417-1471) a estimulou. Em 1545 no Concílio de Tentro, o CARNAVAL foi reconhecido como importante manifestação popular, não devendo ser hostilizada pelo clero. Consideráva-se CRIMINOSOS os bailes de máscara que se transformavam em bacanais.
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No Séc XVIII ocorre um movimento por parte da Igreja Católica e Protestante, em conjunto com a alta classe da sociedade no sentido de reformar a cultura libertina dos carnavais. Os livros passaram a divulgar os perigos dos jogos, das tavernas e da festa carnavalesca, com o intuito de praticar uma reforma moralista. O movimento ganha força e muitas formas grotescas de diversão pública são substituídas por espetáculos como o circo, disputas de clubes, e touradas. Se inicia a comercialização da cultura popular.
Todo este processo de desenvolvimento é motivo para alguns estudiosos afirmarem que a origem do CARNAVAL não é pagã, mas sim religiosa. Para o historiador espanhol Julio Baroja (1914-1995), o CARNAVAL é filho direto do cristianismo ligado diretamente à QUARESMA, mesmo existindo elementos pagãos em sua comemoração. Se vê o CARNAVAL como uma busca do equilíbrio social, como uma força estabilizadora para a manutenção da ordem. Significa o enterro da vida pagã, a última libertinagem antes da penetração na QUARESMA.
CARNAVAL É FERIADO?
Oficialmente não. É um ponto facultativo. Porém, estados e municípios podem declarar oficialmente a data como feriado local.
Ele não é considerado um feriado religioso. A 3a. feira de CARNAVAL é chamada de 3A. FEIRA GORDA pois era o último dia permitido para comer carne antes do início do tempo de 40 dias de jejum da QUARESMA.
A 4a. FEIRA DE CINZAS é o início da QUARESMA, um período de penitência, oração e jejum que prepara os fiéis católicos para a Páscoa. A celebração das CINZAS reforça a fragilidade da vida humana e a necessidade de penitência para a conversão. O ritual das cinzas ocorre após a homilia nas missas de 4a. feira, e tradicionalmente se usa as cinzas obtidas da queima dos ramos abençoados no DOMINGO DE RAMOS do ano anterior.
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A QUARESMA é uma celebração de origem católica romana e ortodoxa. É seguida por alguns ramos do protestantismo como ANGLICANOS, LUTERANOS e algumas tradições METODISTAS e PRESBITERIANAS.
Carnaval. Festa cristã ou festa pagã?
CONCLUINDO, podemos dizer que o CARNAVAL pode ser considerado tanto como uma festa pagã como cristã, dependendo do ponto de vista de quem faz a análise.
Como a fé é curiosa!
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