É crescente o número de brasileiros que se julgam "sem religião". O censo de 2022 do IBGE, mostra que este número chegou a 10% da população brasileira. Cerca de 20 mihões de brasileiros. "Sem religião" não é sinônimo de ateismo. Apenas 5% dessas pessoas são ateus, os outros 95%, acreditam em um deus modelado a sua forma. Grande parte da população vem substituindo sua religião por uma nova forma de doutrina chamada de espiritualidade individualizada.
Medido desde o censo de 1940, percentual representativo de pessoas "sem religião", se torna considerável a partir do censo de 1991, com 4,73% da população. Hoje, com 10,0%, é o terceiro maior percentual de autodeclaração religiosa no Brasil. Acima dele, só os católicos e protestantes.
Por que isto vem acontecendo?
Pesquisadores religiosos e sociólogos afirmam que a principal causa é o descontentamento com as instituições religiosas, assim justificado:
Muitos compreendem a religião como uma instituição, ocasionando um processo de desafeição religiosa que resulta na individualização das crenças. As pessoas não aceitam vincular a sua crença a uma instituição, comunidade ou sistema de culto específico. São insatisfeitos com as lideranças religiosas, com a doutrina, com a ausência ou incompletude de respostas a certas indagações e por discursos religiosos que não representam o pensamento que elas possuem. (Claudia Ritz & Flavio Senra no artigo: "Pessoas sem religião com crenças"- 2022)
O nascer de uma espiritualidade não associada à religiões em pessoas que afirmam ter crenças, mas crentes a seu modo, sem participação ou com participação irregular em cultos. Não são institucionalizados e se afirmam autônomos para vivenciar suas próprias crenças. (Jose Alvaro Campos Vieira - Pesquisador - 2020)
Os erros que as pessoas cometeram na suas escolhas e experiências com diversas religiões, não se encontrando em nenhuma delas. É comum se fazer uma BRICOLAGEM, ou seja, acreditar no melhor que cada religião tem. Muitas vezes, estas pessoas rejeitam os componentes ou métodos utilizados nos cultos. (Luis Soares no artigo: Revoluções no campo religioso - 2019)
A busca da espiritualidade individual
Estudos mostram que grande parte da população brasileira vêm se mostrando insatisfeita com as religiões, dando maior valor as suas crenças pessoais, sem deixar de acreditar em Deus. Estas pessoas buscam a espiritualidade.
Espiritualidade é uma experiência humana muito mais ampla quando comparada com a religião. É um modo de ser que flui conforme a experiência obtida com a realidade vivida, seja experiências místicas, religiosas ou espirituais, independente de definições e conceitos culturais e históricos.
Espiritualidade de uma pessoa é marcada por acreditar e ter devoção em algo superior, não possuindo necessariamente uma crença religiosa. Visa buscar o significado da vida e o relacionamento com o sagrado. Já a religiosidade se manifesta através de participação em atividades como cultos, ritos e reuniões, crença em um líder que ouça seus questionamentos e proporcione formas de atender aos seus pedidos. É uma atitude voltada mais para um campo institucionalizado.
A espiritualidade remete a uma experiência trancendental individualizada, não necessariamente ligada a dogmas ou alguma determinada religião.
Como a fé é curiosa!
Referências Bibliográficas:
Revista Caminhos, v.20, n.3, 2022 - Artigo: Pessoas sem religião com crenças de Claudia Ritz e Flávio Senra.
Revista Novos Estudos, v.38, jan-abr, 2019. Artigo: Revoluções no campo religioso de Luis E. Soares.
Trabalho de Conclusão de Curso de Pós Graduação em Teologia apresentado à FAVENI de Gilson S. Santo.
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